10 August 2006

Dois pontos no rosto. Quatro pontos na mão. Três pontos na perna. Um Ponto Final.


“A violência doméstica e familiar contra a mulher é a expressão mais perversa do desequilíbrio de poder entre homens e mulheres e é, ainda hoje, um grave problema mundial.” Minist. Nilcéa Freire

A nova lei altera o Código Penal e possibilita que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham sua prisão preventiva decretada quando ameaçarem a integridade física da mulher. Acaba o pagamento de multas ou cestas básicas. A violência doméstica é tipificada como uma das formas de violação dos direitos humanos. Esses crimes passam a ser julgados em varas criminais até a instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no âmbito dos Estados.

A lei prevê, ainda, inéditas medidas de proteção para a mulher que corre risco de vida, como o afastamento do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação física da mulher agredida e dos filhos.

A nova lei já é conhecida como Lei Maria da Penha entre os movimentos de defesa da mulher, em homenagem a Maria da Penha Maia, 60, vítima de violência doméstica em 1983. Aos 38 anos, Maria da Penha levou um tiro do marido, enquanto dormia. Mãe de três meninas, ficou quatro meses internada e hoje está numa cadeira de rodas. Quando voltou do hospital, enquanto esperava o processo judicial para que pudesse manter as filhas, ficou 15 dias presa em casa, submetida a choques no chuveiro.

O ex-marido, professor universitário, ficou apenas dois anos preso e hoje cumpre pena em regime aberto.

A lei dá cumprimento, finalmente, à Convenção para Punir, Prevenir e Erradicar a Violência contra a Mulher, da OEA, e à Convenção de Belém do Pará, ratificada pelo Estado brasileiro há 11 anos. O Brasil é o 18º país da América Latina a ter uma lei dessa natureza.

"Naturalizada" por séculos de cultura patriarcal e machista, a violência contra a mulher se configurou como questão pública, rompendo os limites estabelecidos pelas quatro paredes do lar por meio das vozes de milhares de mulheres que resolveram, há cerca de 30 anos, não mais se calar.

Originado em proposta elaborada por um consórcio de ONGs, foi discutido e reformulado por um grupo de trabalho interministerial, coordenado pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, e enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional.

Por meio da relatoria do projeto de lei, foram realizadas audiências públicas em Assembléias Legislativas das cinco regiões do país ao longo de 2005. As audiências contaram com intensa participação de entidades da sociedade civil. O produto desse processo foi um substitutivo acordado entre a relatora, o consórcio de ONGs e o Executivo federal. Em dezembro de 2005, o projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados e, em julho de 2006, no Senado Federal. Por unanimidade.

3 comments:

Sartaris said...

Essas fotos foram tiradas por mim na cerimônia. Tive o imenso prazer de estar presente nesse momento marcante da luta das mulheres brasileiras.

A primeira é a Ministra Nilcéa Freire. A segunda é a Maria da Penha. E a terceira é a incrível Jandira Feghali, que conduziu esse processo pelo legislativo.

Marjorie Chaves said...

Bem, infelizmente não rolou de ir para a cerimônia, mas a alegria de perceber as mudanças que a Lei propõe para a punição em casos de violência contra as mulheres, me deixa bastante otimista!

Uma pena que se tenha levado tanto tempo para se chegar ao ponto que estamos hoje. Agora a questão é fazer cumprir o que diz a lei.

Agora somos NÓS mulheres!

Bjo.
=]

C. said...

Ai, deve ter sido lindo estar lá! Presenciar algumas vitórias...

Menina, acredita que resolvi de última hora ir naquele seminário "A mulher e a mídia", no Rio? Estou absolutamente quebrada de grana (e ainda tem Floripa...), mas valeu a pena, foi muito legal. Quero ir na 4a edição ano que vem, topas??

Bjocas!