12 November 2009

Savannah e o frio


Savannah escorou-se na parede e lentamente desceu até poder abraçar as pernas com seus braços. E assim ficou um bom tempo, com medo. Muito medo do frio. Passou boa parte daqueles dias apenas contemplando o vazio, olhando o além, se abraçando e se protegendo do frio. Frio esse que nunca chegou. Seu medo de que o frio fizesse parar seu coração, congelar seu sangue, petrificar sua espinha nunca se concretizou. Mas ela já não sabia então como parar de sentir aquele medo do frio. E mais ainda. Savannah não sabia como parar de sentir o frio que ela não sentia. Que ela nunca sentiria novamente.


Mas sentada ali, durante épocas e épocas, ela simplesmente se esqueceu de que vivia, que era quente e de que pulsava. Esqueceu-se das cores que emanava, dos sons que vibrava e de que toda a emoção vinha dela.

Savannah se prendeu. E assim se manteve. Não tinha coragem de olhar para si e visualizar caminho aberto a sua frente, esperando intocado.

Por medo do frio ela apenas ficou sentada, se abraçando, encostada na parede, deixando os outros olharem para ela com seus olhos frios de descaso. Até o fim daquela primavera dolorida e gelada, quando ela conseguiu, em muito tempo, mover seus olhos para o alto e ver o sol. E o frio começou a se dissipar. O frio que ela nunca havia sentido.

10 November 2009

Meu afeganistão cotidiano (Ou, essa burca também é minha)

Eliane Castanhede matando na unha novamente e Marta Suplicy acertando em cheio, como nos velhos tempos..

O crime de ser mulher - Eliane Castanhede - elianec@uol.com.br

BRASÍLIA - Noutro dia, uma mulher de mais de 60 anos foi amordaçada, torturada e violentada por um criminoso que entrou na sua casa, em Brasília, fazendo-se passar por bombeiro eletricista.

É dramático, mas comum. Pior foi a entrevista da delegada (delegadaaa!) a uma rádio, em que ela nem sequer fez referência ao crime e ao criminoso, centrando suas suspeitas (ou seriam certezas?) sobre a própria vítima: se nunca tinha visto o homem, como entabulou conversa com ele? Se morava sozinha, como deixou o estranho entrar? E sentenciou: "Há muita coisa estranha nessa história".
Nada disse sobre o estupro, a violência, a covardia, as escoriações, as muitas horas que a mulher havia ficado ferida, amarrada e amordaçada. No inconsciente da delegada, a vítima era a ré.Afinal, uma mulher madura, sozinha, sabe-se lá!
É o que ocorre na Uniban, quando vândalos recalcados promovem uma rebelião, perseguem, ameaçam e humilham uma colega indefesa, porque... Por que mesmo? Ah, sim! Era insinuante. E ela é que acaba expulsa pelo conselho universitário, até o reitor agir. A vítima virou ré. Afinal, uma mulher jovem, bonita, de saia curta...
São dois casos bastante simbólicos. No de Brasília, não foi um policial bruto e machista que inverteu as condições de vítima e réu: foi uma delegada mulher. No da Uniban, quem embolou os personagens foi o conselho de uma entidade acadêmica, que foi criada e é regiamente paga para cuidar da educação (e da segurança) dos filhos alheios.
Se a delegada e a cúpula da escola são os primeiros e mais insensíveis algozes, para onde correr? A quem recorrer? O "mal" e o "bem" se embaralham cruelmente, e a vítima passa a ser cada vez mais vítima -na condição de ré.
PS - Por falar nisso, no Estado de Maluf e na capital de Pitta, quem é condenada e paga a conta é Luiza Erundina. É de rir ou de chorar?

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Universidade Taleban - Marta Suplicy

HÁ COISAS que assustam pelo seu inusitado ou inesperado.
Outras assustam porque, além de surpreendentes, são indicadoras de situações preocupantes. O caso da aluna Geisy, da Uniban, faz parte dessa segunda leva. Um vestido curto, um salto alto e um andar rebolado quase provocam o linchamento de uma estudante. Dias depois, a vítima é transformada em ré e quase acaba expulsa da universidade.
Uma moça põe um vestido ousado, talvez não exatamente próprio para quem vai assistir a uma aula. Teria uma festa depois? Não vem ao caso. A situação que merece análise é: Por que um vestido curto e um possível caminhar provocante suscitam a reação brutal sofrida pela moça? Outra indagação é: Por que uma universidade, que deveria ser um lugar de ensino, penaliza a jovem e vai na contramão do século que pretende instruir?
Vamos começar pelo que é "próprio" para ir à aula. É possível hoje dizer o que é moda? Ou o que é adequado para ir a este ou àquele lugar? Dá para restringir o que hoje se entende por expressão e extensão da personalidade da pessoa? Claro que não se espera que alguém vá de traje de banho... mas um vestido?
Não. Não foi a impropriedade da roupa, mas o desejo, o medo e a raiva que a roupa despertou -igualmente, mas por motivos diferentes- em homens e mulheres. A inveja e o reprimido provocaram a mesma reação.
O caso da universidade Taleban é complexo, na medida em que junta machismo máximo com burrice aguda. A decisão pela expulsão, mesmo que revogada, explica com extrema clareza a situação que nós mulheres ainda vivemos.
Uma simples pergunta evidencia o machismo: Seria essa a reação da universidade se se tratasse de um rapaz se vestindo de maneira "inadequada", com coxas à mostra ou dorso nu?
A burrice é que, se a universidade já havia pecado com o desleixo com a segurança da estudante, a primeira reação a tornou símbolo do atraso. Também financeiramente é um desastre para a instituição -quem vai querer estudar em tal lugar? Sem falar que, se o juiz não for do mesmo ramo Taleban, propiciará reparação financeira maior à aluna. Agora, com a expulsão revogada, é preciso esperar os próximos passos.
A universidade, negando seu papel educador e a princípio expulsando a aluna, "completara o serviço" dos estudantes. A violenta indignação da sociedade civil e das organizações de defesa das mulheres -estas com algum atraso- mostrou como parcela importante da população já tem a percepção da gravidade do que ocorreu.
Ficou evidenciado, e isso é o que indignou tantas pessoas, o quanto esse tipo de preconceito ainda está entranhado na sociedade. A agressão à jovem, a atitude da universidade Taleban, foi tudo muito assustador.
Sobrou um pseudoconsolo: aqueles que dizem que mulheres, nos dias de hoje, não têm mais do que reclamar ficarão caladinhos alguns dias. Poucos dias, pois o tamanho da montanha a ser escalada, como pudemos todos verificar, é enorme.
Não avançamos no número de mulheres na política -aliás, estamos entre os piores na América Latina. Continua a enorme desigualdade de salários para o mesmo trabalho e... quem é mulher tem sempre uma história para contar sobre o que ocorre no cotidiano, seja entre quatro paredes, seja na rua. E não são boas histórias.
A desqualificação da estudante, feita primeiro pelos seus pares e depois pela universidade, evidencia por que as mulheres têm tanta dificuldade em trilhar o caminho do poder, seja ele político, seja empresarial. Não é à toa que, no ranking das cem "Melhores & Maiores" empresas brasileiras publicado pela revista "Exame", nenhuma mulher ocupa o cargo de presidente.
Universidades como essa e desrespeito à liberdade da mulher produzem resultados que excluem mais da metade da população -o gênero feminino- dos seus direitos plenos.
Nós acreditamos que, assim como este é o século do Brasil, também é o século no qual as mulheres adquirirão, de fato e na prática, direitos iguais. Enquanto shows de autoritarismo continuarem a acontecer sem indignação da sociedade, será difícil atingir ambas as metas.
A reação da universidade diante da avalanche de repreensões e possíveis sanções deixa claro que a indignação e a reação públicas ainda conseguem mudar rumos.


Marta Suplicy foi prefeita da cidade de São Paulo pelo PT (2001-2004) e ministra do Turismo (2007-2008).

Uma simples pergunta evidencia o machismo:
a reação seria a mesma se
se tratasse de um rapaz
usando roupa "inadequada"?

Fonte: UOL

05 November 2009

Infernoton!

Finalmente consegui arrumar paciência para escrever no bloguinho. Na verdade nem sei se este seria um post para o NegraLuna ou para o Respira no Saquinho. Talvez seja post misto e por isso devo publicá-lo nos dois. O assunto hoje é: inferno astral e os nossos infernos cotidianos.

Estou no meu inferno astral (aquele período de 30 dias que antecede o seu aniversário) desde o dia 20/10. Até ai, matematicamente falando, tudo ok. Mas eu acho que a merda começou um pouquinho antes. Uns poucos dias antes. E de lá pra cá, a montanha russa não pára.

- Mudança de emprego: Essa é a única parte boa. Larguei o emprego passado, onde eu trabalhava demais, por horas e horas extras sem recebê-las, cercada de gente que não valorizava meu trabalho, sem perspectiva de crescimento e ganhando um salário de merda. Isso sem falar no adicional de insalubridade que eu merecia por ter de trabalhar com gente burra e incompetente. Dessa eu me livrei!

- Infecção urinária: Sim, até essa me aconteceu. Volta de férias na sexta. Na segunda fui visitar o pronto socorro praticamente chorando por causa da dor que essa tal causa. Bastante típico em quem volta de férias na praia, por toda a insalubridade do lugar.

- Vírus no computador: Sim. Mais uma novidade. Eu sempre tomo o maior cuidado com o meu PCzinho de casa. Essa foi a primeira vez em que peguei um vírus de computador que me fez pensar que tuuudo estaria perdido. Sorte que não estava.

- Ele não está tão a fim de você: Sim. Não sei dizer exatamente quem não está, até porque eu não estou tão de olho assim em ninguém específico, mas é aquela velha história. A carência aperta quando o tempo está mais frio.

- Grana presa na mão do governo: Na saída do trabalho, a pobrezinha da empresa que eu trabalhava disse que não poderia fazer um acordo comigo (tadinha, fatura só alguns milhares de reais por mês). Então meu FGTS vai ficar preso por três anos. Ou antes, se eu me casar.

- Insônia: Ah, minha grande companheira. Agora eu não só durmo tarde, como acordo cedo e ainda fico acordando tooooda hora durante a noite, apavorada. Ou seja, passo o dia exausta. Melhora um pouquinho a noite.

- Autoestima no ladrão: Como parei de correr devido a uma torção no pé, dei uma engordadinha de leve. Resultado? Juntou-se a isso o cansaço da insônia e bléum! Explodiu em sensação de estar feia, derrubada, etc.

Preciso respirar fundo e aguentar, que já já passa.... faltam poucos dias.