Savannah escorou-se na parede e lentamente desceu até poder abraçar as pernas com seus braços. E assim ficou um bom tempo, com medo. Muito medo do frio. Passou boa parte daqueles dias apenas contemplando o vazio, olhando o além, se abraçando e se protegendo do frio. Frio esse que nunca chegou. Seu medo de que o frio fizesse parar seu coração, congelar seu sangue, petrificar sua espinha nunca se concretizou. Mas ela já não sabia então como parar de sentir aquele medo do frio. E mais ainda. Savannah não sabia como parar de sentir o frio que ela não sentia. Que ela nunca sentiria novamente.
Mas sentada ali, durante épocas e épocas, ela simplesmente se esqueceu de que vivia, que era quente e de que pulsava. Esqueceu-se das cores que emanava, dos sons que vibrava e de que toda a emoção vinha dela.
Por medo do frio ela apenas ficou sentada, se abraçando, encostada na parede, deixando os outros olharem para ela com seus olhos frios de descaso. Até o fim daquela primavera dolorida e gelada, quando ela conseguiu, em muito tempo, mover seus olhos para o alto e ver o sol. E o frio começou a se dissipar. O frio que ela nunca havia sentido.
4 comments:
"Mas sentada ali, durante épocas e épocas, ela simplesmente se esqueceu de que vivia"...
acho que acontece um pouquinho com cada um de nós sem que nos demos conta ...
gostei do seu texto!!
Posso usar essa imagem no meu blog?!
'Sem carinho, sem coberta, atrás da porta, reclaemi baixinho...'
Chico Buarque e Francis Hime, Atrás da Porta.
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