24 February 2006

Deusa Maat

Todos os anos, no Imbolc, sorteio a Deusa Madrinha daquele ano. Não sei se essa é uma prática de todas as bruxas wiccanianas, mas as que eu conheço fazem isso. E eu, desde que me entendo por bruxa faço isso.

Já tive como madrinhas Oshum, Freya, Brigid, Athena, Gyldépitys (que troquei para Morgana), Sedna, Radha e agora Maat.

Deusa Maat - "Faze justiça enquanto durares sobre a Terra"
Filha de Rá, o sol, é a Deusa da justiça, do equilíbrio, da verdade e do senso da realidade. Sem Maat, a criação divina (a Terra e seus habitantes) afundaria no caos.
As características de Maat são a capacidade de observação, o senso de justiça e sabedoria para criar harmonia à sua volta.

Símbolos: Velas brancas, essência e incenso de lótus ou olíbano, penas brancas ou penas de avestruz, falcão, águia;. No dia 05 de julho ocorriam, no antigo Egito, os festejos à Maat.

Segundo a mitologia Egípcia é representada por uma mulher jovem portando em sua cabeça uma pluma. Esposa de Thoth, o escriba dos deuses com cabeça de ibis. Com sua pena da verdade ela pesava o coração dos mortos que chegassem ao seu Salão de Julgamento subterrâneo.

Ela colocava sua pluma num prato da balança e no prato oposto o coração do falecido. Se os pratos ficassem em equilíbrio, o morto podia festejar com as divindades e os espíritos da morte. Entretanto, se o coração fosse mais pesado, ele era devolvido para Ahemait (Deusa do Inferno, que é parte hipopótamo, parte leão, parte crocodilo) para ser devorado.

Sim, Maat já chegou abalando bangu.... E espero que a justiça seja feita!
*Quem souber mais sobre Maat, por favor, me conte tudo.

20 February 2006

Série Tipinhos Inúteis das cidades

Da Série "Tipinhos Inúteis das Cidade" - Gente que dirige mal

Eu adoro dirigir. Entretanto não há nada mais estressante que dirigir numa cidade. E não apenas pelo congestionamentos, que em Brasília começam a se tornar mais frequentes e maiores, mas principalmente por causa daquelas pessoas que dirigem mal.

E o que é dirigir mal para mim? É atrapalhar o trânsito, o fluir dos carros. Vamos aos exemplos:

- Velhinhos e velhinhas motoristas:
Esses chegam a ser folclóricos. Vão felizes e contentes, pela faixa da esquerda, aquela que é para quem desenvolve mais velocidade, dirigindo seus carrinhos com o velocimetro fixo nos 40km/h quando o limite é 60 e 50km/h quando é 80. Não, eles não se preocupam em andar pela faixa da direita, que é feita EXATAMENTE para gente como eles, que andam devagar, atrapalhando o trânsito. Eles querem aproveitar o asfalto da faixa da esquerda e ficam empatando a vida de quem quer desenvolver mais velocidade. Aí você pisca o farol para eles saírem, e eles, nada. Resultado: Ou você aguarda eles terem a boa vontade de saírem, ou aguarda chegar no lugar em que eles entram, ou ultrapassa pela direita, o que é errado. Eu acho que além do exame de saúde, velhinhos e velhinhas deveriam fazer novamente o teste de direção para ver se realmente podem continuar dirigindo.

- Carro velho:

Mesmo problema dos idosos. Os carros velhos não conseguem acompanhar o rítmo e começam a atrapalhar o fluxo. Normalmente eles aparecem nos finais de semana, quando tem menos blitz e o risco desses dinossauros irem para o depósito é menor. Deveriam todos virar sucata mesmo. Ou o dono cuida da manutenção ou perde o carro. Simples.

- Gente sem simancol:
É aquela galera que fica no celular, pra lá e pra cá, dirigindo o carango em baixa velocidade porque não consegue fazer isso na velocidade da via. Tem ainda aqueles que resolvem ficar conversando com o carro do lado e trancam as vias das avenidas.

- Barbeiros em geral:
Infelizmente barbeiragem é uma coisa difícil de ser identificada na prova do detran. Daí centenas de barbeiros recebem suas carteiras de motorista e saem pelas ruas impondo o trânsito como desejam. São eles normalmente que nos fecham, porque não mudaram de faixa previamente e querem entrar aqui, agora, e por cima de você se for o caso. São eles que não sabem o que diabos significa aquele triangulo vermelho com miolo branco antes de cada entrada (dê preferência). São eles que param no meio da rua para pensar no caminho, que estacionam no meio-fio para deixar alguém, sem ligar o pisca, que viram sem dar seta, etc, etc, etc. Legítimos animais irracionais no trânsito, os barbeiros acabam com o bom humor de qualquer um.

- Motoristas profissionais:
Nessa categoria encontramos os motoras de ônibus, lotação e taxi. São três dos piores espécimes da selva do trânsito. Sem um pingo de respeito pelos outros, jogam seus autos contra nós, fazem fechadas impressionantes para pegarem passageiros e adoram prensar a gente contra outros carros, para ultrapassarem alguém. Nada mais delicioso que sacanear um desses de alguma maneira, já que eles não tem a menor piedade de nós.

- Apressadinhos:
Você olha pelo retrovisor e lá está ele, se aproximando em alta velocidade. Cola na sua traseira e fica acelerando como se isso fosse fazer a gente desaparecer e deixar a via livre. Ou então ficam costurando de um lado para o outro, buscando uma brechinha para ultrapassar. São crianças frustradas por não terem jogado Enduro que cresceram e se tornaram péssimos motoristas.

14 February 2006

O lado bom e o lado mal...

Tá bom, tá bom, já entendi que 2006 começou como um roundhouse kick* no meu saco e eu nem saco tenho um desses para doer. Enfim, hoje eu cheguei no trampo e nem era 9 da matina ainda quando tive, digamos, um incidente diplomático, com uma, digamos, pessoinha bizarra que trabalha comigo. Foram três frases de cada lado e tudo acabou. E eu fiquei com a péssima sensação de ter decido ao, digamos, nível de baixaria dela. E para resolver o problema que iniciou a querela (palavra que aquela, digamos, pessoa deve achar que é nome de manteiga) eu me mudei de lugar.

:o) Ponto positivo: Não congelo mais por causa do ar condicionado.
:o) Ponto positivo 2: Minha nova mesa é mais silenciosa sem a, digamos, coleguinha de trabalho
falando as 8 horas que passo no escritório non-stop.
:o( Ponto negativo: Estou isolada. Os coleguinhas legais estão muito, muito longe de mim agora.
Não tenho ninguém para conversar durante o maledeto expediente.

Bom, mas tirando o, digamos, imprevisto da manhã, quero indicar dois sites muito, muito legais.

Church Of The Flying Spaghetti Monster
O fundador dessa "Igreja" começou ela como uma forma de protestar contra o ensino da teoria criacionista nas escolas americanas. Para ele não tem nenhum problema ensinar religião na escola, desde que não seja na aula de ciências. PONTO!!!! Muito show o site, o movimento, a idéia. TUDO! Eu, claro, apesar de ser bruxa, com certeza sigo os mandamentos do Monstro de Espaguete Voador.
Um dos slogans da igreja é: Have you ever been touched by his noodly appendage? Que quer dizer alguma coisa como: Você já foi tocado pela sua extremidade de massa? E quem segue essa crença são os pastafarians. Eu ainda não entendi a ligação disso tudo com os piratas, que estão em muitas partes do site, mas vou continuar lendo para entender.

The Plastic Day
Site do Sérgio Stefano, que eu acho foi recomendado no Sindrome (mas pode ter sido em outros...), onde eu me delicio lendo o que ele escreve com um humor sagaz, mordaz e direto, do jeitinho que eu gosto. Atira para todos os lados suas críticas e tece elogios aos que merecem. Ótima leitura. E além disso ele sempre colocar frasezinhas. E eu mais que adoro frasesinhas. Para vocês ficarem com vontade de ler o site, uma degustação de frases.

O muito Otimista: "Na próxima encarnação, quero nascer morto."
O filósofo: "Uma prova definitiva de que existe vida inteligente em outros planetas é ela nunca
ter aparecido por aqui."
A Anoréxica: "Confeti substitui uma dieta colorida?"
O Pensador: "Há pessoas que gostam tanto de refletir, que merecem virar espelho"
O Bom Moço: "Se a gente dividisse o preço do motel desde o começo do namoro, hoje eu teria dinheiro para te dar um carro."
O Marketeiro: "Junte alguns folhetos de "Compro ouro" e "Empréstimo sem fiador" e dê sempre que alguém te parar na rua para distribuir propaganda"
A Crente: "Ele não sofreu! Pelo menos viverá para sempre. No Orkut"
O namorado esquecido: "Esse cachorro empalhado estava mais barato e é muito mais realista do que qualquer bichinho de pelúcia"


"— Mulé, tu que é mais estudada que eu, sabe das coisas: será que você pode me explicá a diferença de poblema e pobrema?
— Pobrema é aquele que você tem na escola, os de matemática.. E poblema é os da vida... Poblemas da vida, entendeu?"

Na concessionária:
- Quanto custa esse carro?
- Dá pra fazer por uns 25 mil, mais ou menos nessa faixa etária de preço

LOJA DE DISCOS
— Vocês têm CD de jazz?
— Não, mas temos de aeróbica.

"Tem gente que acha que sou impaciente. Quero que eles vão todos pra puta que os pariu, filhos da puta!"
"Tudo o que eu tenho hoje eu devo aos bancos"

*chute do Chuck Norris

10 February 2006

Um gato, tesão, uhuuuu!!!

Eu estava numa navegada básica por blogs indicados por outros blogueiros e nem me lembro do que falava o post.... Mas dei de cara com esse gatão aqui olhando para mim e não pude resistir.
Tive que fazer um post sobre ele.

Simplimente porque esse gatão escreveu coisas tão lindas, tão lindas e tão inteligentes que eu sou fã dele... E daí se ele usa os contatos que tem para ser poupado pela mídia quando toma um "banhinho de mar" com uma mulher casada? Oras... Ele é filho da Deusa - aliás a genética foi muito boa com ele.
O grande lance é que o gatão aí do lado e seus possantes olhos claros (azuis eu acho) é o máximo do máximo de escrever sobre o Brasil, as nossas peculiaridades, as idiossincrasias dos casais, as separações, as perseguições, as paixões, etc, etc...

Eu sou muito fã dele. Sou tarada nele, com essa cara de menino abandonado que ele tinha quando era mais novo... Na época em que ele não podia assinar suas músicas nem escrever tudo o que queria... Ainda bem que não prenderam ele, nem fizeram lobotomia nele. Ainda bem que ele continuou sendo um tesão... Com todos os sentidos...

Quando eu era menininha a minha música favorita, aquela que a pentelha ficava pedindo para tocar sem parar era "Cálice". Agora imagine.... eu, com uns 5 anos e não queria ouvir nada além de Cálice. Depois ganhei o disco dos Saltimbancos. Ficou um pouco mais condizente com a minha idade, e sendo do gatão, tudo certo!

Quando olhaste bem nos olhos meus, e o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei. E me arrastei e te arranhei. E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pelos, teu pijama, nos teus pés ao pé da cama. Sem carinho, sem coberta, no tapete atrás da porta, reclamei baixinho. Dei pra maldizer o nosso lar, pra sujar teu nome, te humilhar e me vingar a qualquer preço. Te adorando pelo avesso. Pra mostrar que ainda sou tua.

Olha, será que ela é moça? Será que ela é triste? Será que é o contrário? Será que é pintura? O rosto da atriz. Se ela mora no sétimo céu? Se ela acredita que é outro país? E se ela só decora o seu papel? E se eu pudesse entrar na sua vida. Olha, será que ela é louça? Será que é de éter? Será que é loucura? Será que é cenário? A casa da atriz. Se ela mora num arranha-céu? E se as paredes são feitas de giz? E se ela chora num quarto de hotel? E se eu pudesse entrar na sua vida.

Sim, me leva pra sempre, Beatriz. Me ensina a não andar com os pés no chão. Para sempre é sempre por um triz. Aí, diz quantos desastres tem na minha mão. Diz se é perigoso a gente ser feliz. Olha, Será que é uma estrela? Será que é mentira? Será que é comédia? Será que é divina?A vida da atriz. Se ela um dia despencar do céu. E se os pagantes exigirem bis. E se o arcanjo passar o chapéu.

Ah, se já perdemos a noção da hora. Se juntos já jogamos tudo fora. Me conta agora como hei de partir. Ah, se ao te conhecer dei pra sonhar, fiz tantos desvarios. Rompi com o mundo, queimei meus navios. Me diz pra onde é que inda posso ir. Se nós nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir.

Se entornaste a nossa sorte pelo chão, se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu. Como, se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido e o meu sapato inda pisa no teu. Como, se nos amamos feito dois pagãos, teus seios inda estão nas minhas mãos, me explica com que cara eu vou sair. Não, acho que estás te fazendo de tonta. Te dei meus olhos pra tomares conta. Agora conta como hei de partir.....

Ahh gatão..... com você consegue escrever essas coisas tão, tão sublimes.....

08 February 2006

Quem ama não mata, não espanca, não maltrata!

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PERNAMBUCO: Estado é líder em mulheres mortas
Fonte:
http://www2.correioweb.com.br/cbonline/brasil/pri_bra_101.htm
Conhecido por suas praias e pelo Carnaval, Pernambuco é, desde 2002, líder de um ranking assustador. O estado é recordista nacional no número de mulheres assassinadas. Até hoje, 38º dia do ano, 44 mulheres foram mortas de forma violenta. Diante da gravidade do quadro, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres do Governo Federal, Nilcéia Freire, esteve ontem em Recife para anunciar as ações do governo federal de fortalecimento de uma rede local de atendimento à mulher. A maior parte dos crimes ainda é cometida por namorados, maridos e outros familiares. Mas o percentual de homicídios que ocorrem em espaços públicos já representa cerca de 40% dos casos.
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É Absurdo. É um número tão bizarro que não parece real. Estamos vivendo no Afeganistão, onde uma mulher vale menos que a gasolina usada na imolação dela? Ou vivemos em pequenos Afeganistões pelo Brasil a fora?

Quando um número assusta como essa estatística de Pernambuco, aí faz-se o maior fuzuê. Todos os jornais dedicam algumas linhas ao assunto, chamam um especialista para falar, colocam foto e coisa e tal. E a noite mais uma mulher leva uma corsa, é faqueada, baleada, estuprada, espancada, humilhada, etc etc etc.... E praticamente no dia seguinte não se fala mais no assunto. E a vítima virou estatística. E o Brasil continua lindo.....

É ultrajante pensar que, desde o começo do ano, uma mulher morreu por dia em Pernambuco, vítima de violência. E façamos as correspondências. Como será esta realidade em São Paulo? E no Rio? Em Minas Gerais, quantas morrerão?

E até quando as pessoas vão continuar achando que em briga de marido e mulher não se mete a colher? Quantas mais morrerão até a sociedade compreenda que não tem essa de “ele não sabe porque está batendo, mas ela sabe porque está apanhando”. Até que ponto as estatísticas deverão crescer para que a sociedade pare de repetir a bobagem “o feminismo não tem mais razão de existir porque as mulheres conquistaram tudo o que queriam”.

A Ministra faz o que pode, a deputada Jandira também. Levam a diante projetos de lei, incentivam a discussão, a formação de redes de apoio. Paliativos. Infelizmente não é por falta de lei que as mulheres são assassinadas. É por falta de valorização. Porque as mulheres são desvalorizadas como indivíduos e supervalorizadas como sexo. Porque os homens acham que têm direito de matar, de espancar. Porque eles acham que podem bater, que não quer dizer sim, que todas são vagabundas, que mulher é para servir, na mesa e na cama.

Pernambuco apenas escancarou a verdade mórbida da realidade de milhares de cidadãs brasileiras que vivem com medo e morrem com violência. Mas nas grandes cidades e nos vilarejos mais simples, a diferença de gênero continua sendo usada politicamente, para justificar os maus tratos a que as mulheres são expostas, a desvalorização das profissionais, a exploração sexual, etc, etc, etc.

Para saber mais: A Denise falou disso no
Sindrome de Estocolmo e indicou o Grupo Origem, lá de Recife.

06 February 2006


The Trick Is To Keep Breathing
Garbage
She's not the kind of girl
Who likes to tell the world
About the way she feels about herself
She takes a little time
In making up her mind
She doesn't want to fight against the tide
And lately,I'm not the only one
I say never trust anyone
Always the one who has to drag her down
Maybe you'll get what you want this time around
Can't bear to face the truth
So sick, he cannot move
And when it hurts he takes it out on you
And lately,I'm not the only one
I say never trust anyone
Always the one who has to drag her down
Maybe you'll get what you want this time around
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
She knows the human heart
And how to read the stars
Now everything's about to fall apart
I won't be the one who's going to let you down
Maybe you'll get what you want this time around
(The trick is to keep breathing)
I won't be the one who's going to let you down
(The trick is to keep breathing)
Maybe you'll get what you want this time around
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
The trick is to keep breathing
Ai ai, nada como um Garbage para traduzir minha alma....

03 February 2006

Ode ao final de semana vindouro!

O texto a seguir para mim é simplismente DO CARALHO! É um dos melhores e mais fiéis retratos da juventude universitária do Brasil... E um pouco pós-universitária também. E, claro, apesar de não ser nem um pouco de esquerda, sou sim meio intelectual e freqüento bares meio ruins. Se bem que hoje, depois de já ter passado por muitos, muito desses bares ruins, eu quero mesmo é que me atendam bem, tenha cerveja gelada (antártica ou skol, pô! me respeita!) e o preço seja honesto. Ah! E sem muita barulheira... porque meu ouvido não é penico...

Bar ruim é lindo, bicho - Por Antônio Prata


Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.

Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo. Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. (...)

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. (...)

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem.

Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato.

Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! (...) Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

Ps: Eu tirei alguns trechos apenas para não ficar gigante e as pessoas perderem o saco de ler... Mas o texto na íntegra está espalhado pela internet, super fácil de achar!!!