20 September 2006

REPUBLICANDO: Acreditar para existir.... ou o inverso...

Vi no blog da Magie que Clarice Lispector disse que porque acreditava em anjos, eles existiam. Paulinho Moska diz: “Sonhos são como deuses. Quando não se acredita neles deixam de existir.” No filme “A História sem Fim”, todo um mundo está sendo ameaçado porque ninguém acreditava nele. Faz tempo que eu sentia uma vontade de escrever um post sobre acreditar. Ou melhor, deixar de acreditar.

Quando eu era pequena eu acreditava que iria me casar de branco, em uma igreja e cheguei a desenhar vários vestidos para mim, junto com uma amiga que eu acreditava iria estar eternamente ao meu lado. Eu acreditava que poderia ser uma bailarina, que fosse também bombeira e por sua vez também pilota de avião e morava em um trailer como aquele em que brincava de casinha no quintal da minha avó.

Eu acreditava no coelho e no Noel. Acreditava que existia um lugar cheio de anjinhos que tocavam harpa. E, claro, acreditava que um dos Menudos, Dominós e sei lá mais o que iria ser meu principe encantado, com quem eu seria feliz para sempre. Eu achava também que as crianças nasciam dos beijos que os pais davam na igreja e que o Globo Rural era o programa mais legal da tv brasileira.

Na adolescência deixei de acreditar no catolicismo e no coelho e no Noel. Enfrentando por anos a “realidade” do vestibular, deixei de acreditar que uma bailarina podia ser bombeira e pilota de avião. E percebi que não dá para morar no trailer do quintal da minha avó. Deixei de acreditar numa “primeira vez ideal”, sem a malícia e a violência que às vezes o sexo traz consigo. Descobri como dói quando somos desprezados. E deixei de acreditar que amores são sempre possíveis.

Já adulta, foi a duras penas que deixei de acreditar no romance perfeito, daqueles de cinema; em uma alma-gêmea que todos teríamos; que comédia romântica pode ser inspirada em fatos reais; que chegar na Austrália requer apenas juntar dinheiro; que amigos e amigas são eternos. Deixei de acreditar no casamento na igreja, no tal vestido branco e em ter filhos. Deixei de acreditar que basta queremos muito uma profissão para ela se concretizar; que pessoas não envenenariam meus cães; que chegar em casa é estar seguro. Que a medicina ocidental é infalível. Que as pessoas viveriam para sempre. Que o nosso mérito é sempre reconhecido.

“De tanto você não me dizer, eu fui perdendo a palavra. De tanto você não me sentir, eu fui perdendo o sentido. De tanto você não me querer, eu fui fazendo o mesmo”
(Juão França).

7 comments:

Sartaris said...
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Sartaris said...

Sobre as imagens - Cenas do História sem Fim:
1- Auryn - Amuleto usado por Atreyo.
2 - Bastian começando a ler o livro.
3 - Falco. O dragão alado que era o meio de transporte do Atreyo depois que o cavalo foi probrejo, literalmente. (Aliás, uma cena fortíssima)
4 - Atreyo, meu herói.
5 - Casal de Fantasia. Protagonizam uma das cenas mais engraçadas do filme.
6 - Homem de pedra. Protagoniza uma das cenas mais tristes e marcantes do filme.

Anonymous said...

Nossa, cara! Para mim, isso não é realismo não, é pessimismo mesmo, dos “brabos”.
Pelo que eu lembro, sempre tive sonhos. Os mais fantásticos foram na infância, é claro.
Aos cinco anos, acordei certa noite e uma imagem de Jesus de um quadro que minha mãe tinha na sala apareceu no meu quarto e disse-me algo, mas em “mute”, seus lábios moviam-se mas eu não ouvia som nenhum. Depois disto, durante um bom tempo acreditei que Ele apareceria de novo para contar a importante missão que reservara para mim, desta vez com som. Porém, até hoje nada mais de aparições Dele.
Por volta dos dez anos, recém-chegado do interior, comecei a ler revistinhas dos X-MEN e do WOLVERINE, e passei a acreditar - não tanto quanto na nova aparição de Jesus, pois eu já estava mais crescido, mas sempre com uma ponta de esperança - que quando eu completasse dezesseis anos meus poderes mutantes iriam manifestar-se. Mas somente minhas espinhas e timidez patológica manifestaram-se, e como.
Então, entre dezoito e dezenove anos, parei de acreditar em sonhos, em família, em Deus e em qualquer outra coisa além de mim mesmo. Esta foi a minha Idade Média, a fase mais sombria da minha vida, da qual tive que lutar muito para sair. Mas consegui, voltando a acreditar saí das trevas.
Depois de passar por uma demolição e dar início a uma reconstrução (como a que você está fazendo agora) aos vinte e dois anos, passei a transformar meus sonhos em projetos, planejados em cronogramas nem sempre seguidos à risca e, na maioria das vezes, executados um de cada vez. Assim tenho conseguido alcançar alguns objetivos e vários outros ainda não, mas sem desistir nunca de qualquer deles, ou, no máximo, substituindo algum por outro novo - desculpe por isto estar parecendo mistura de palestra motivacional com campanha do governo Lula pela valorização dos brasileiros, mas é simplesmente uma transcrição da verdade.
Se eu não tiver projetos e se não acreditar neles, tenho medo de um dia acordar de manhã ou de ficar sem dormir à noite pensando: “Que porra eu tô fazendo da minha vida? O que eu quero? Quais são meus objetivos? Pra que tô vivo? A realidade é só isso, dormir, acordar, tomar banho, comer, ir pra um trabalho que não é o dos meus sonhos, voltar pra casa e repetir tudo isso dia após dia?”. Daí até eu colocar uma bala dentro do meu parênquima cerebral e dar fim a minha miséria custa pouco - sei bem como é este ponto, estive bem perto dele várias vezes durante a Idade da Trevas.
Preciso dos projetos, preciso da minha família, da minha mulher, do meu filho que está chegando, dos outros filhos e filhas que quero ganhar de presente, de Deus e, acima de tudo, preciso da minha fé em tudo isso. Mesmo com todas as frustrações dos sonhos que não se realizarem. Porque os que tornarem-se reais suavizaram a dor daqueles outros.

Anonymous said...

Esqueci de identicar o comentário.
Fui eu, Joaquim Kbção Jr.

Sartaris said...

Kbção,

Eu tenho vários sonhos, claro. Como arrumar motivação para acordar e sair da cama sem ter pelo menos um mísero sonhozinho né?

O post está mais para mostrar como nos entupimos de sonhos, ansiedades e etc... E como é foda ir crescendo e ir vendo uma a um cair por terra.

Ou será o contrário? Ou será que os sonhos não se realizam porque deixamos de acreditar neles, inconscientemente?

Crescer é uma tarefa dura, dolorida e fedorenta...

Abs,
Eu

Anonymous said...

Faz parte de ser humano... Coisas que acreditávamos quando éramos crianças, hj podem ser devaneios de uma mente infantil. Mas a cada crença de nossa tenra idade que cai, uma nova surge e nos dá força para continuar buscando nossa paz. Eu não acredito mais tb em Noel ou em coelho da Páscoa, ou em alguma dessas outras coisas que você citou, mas acredito, por exemplo, que um dia vou ter meu apartamento. Acredito que ainda vou conseguir encontrar um emprego que vai me ajudar a realizar isso, sem eu ter que abrir mão dos meus princípios, acredito que vou emagrecer e conseguir me manter assim. Acredito em um monte de outras coisas. Se elas vão acontecer ou não, só o tempo dirá... E ainda, com essas coisas acontecendo ou não, certamente lá na frente, terei outras crenças pra substituir as de hoje q cairem e continuarei buscando-as. Todos nós somos assim! Se alguma crença sua caiu por terra hj, não se preocupe! Logo, logo, uma nova irá substituir a lacuna deixada pela anterior e você vai preencher o vazio! =)

Xanditz

Marjorie Chaves said...

Sininho, adorei este post... ele me fez pensar em tantas coisas! Fiquei realmente emocionada, não sei se porque ando à flor da pele ultimamente, ou se eu fui tocada verdadeiramente por suas palavras. Que chique não?

Então, descobri que deixar de acreditar causa uma dor danada, mas não deixa que a gente viva na ilusão. Deixei de crer em muitas destas coisas, e outras além...

Dei um tempo da blogosfera, mas estou de volta para me deliciar com suas palavras.

Beijos.